Haveria de acontecer, eventualmente. O homem disse a última coisa e, depois disso, nunca mais ninguém falou nada. Não havia o que falar. Tudo que é frase, indagação, contemplação, revolta ou aprazimento já havia sido expresso. O povo não tinha mais o que falar, porque já falaram tudo. Até o próprio medo de ficar sem … Continue lendo It’s oh so quiet
Autor: lrnzdcc
Madrugada
aquarela por @harumidono São quatro horas da manhã. Quatro horas dentro da madrugada, o horário do impossível, o intervalo uivante entre os dias de sol que refletem nas piscinas cloradas dos subúrbios americanos. E são quatro horas sem sono. Não hoje, não sono. Quatro horas se passaram, e não veio João Pestana fazer sua mágica … Continue lendo Madrugada
Rigor mortis
Ele me puxa pelo braço, e faz meu ombro esquerdo destroncar-se. Sua mão é quente, consigo sentir as digitais raspando sobre a superfície branca das minhas falanges. Eu lembro da primeira vez que fiz isso, o fantasma da alienação que me assombra mesmo agora. Meu olho esquerdo pulula, ameaça descolar da órbita, enquanto trocamos olhares … Continue lendo Rigor mortis
Quedas e fraturas
Eu tenho um amigo que diz que, um dia, tropeçou e nunca mais parou de cair. A rua onde ele morava era meio esburacada, então era um terreno propício pra esses acidentes. Ficou por horas caindo e caindo, não sabia dizer pra onde caía, mas caía. Quando se deu por conta, encontrou o chão um … Continue lendo Quedas e fraturas
Éramos onze
É com pesar que anunciamos o fim da trajetória da grandiosa e infame escritora Edirlene - conhecida pelo seu pseudônimo Camila Veronese - nos tabloides e anais elétricos na nossa EDIRzine. Sua presença será sempre bem-vinda, mas talvez Edirlene esteja um pouco ocupada demais para contribuir com a nossa missão de promover a descoupação. Sim, … Continue lendo Éramos onze
Imageboards II
Não me pergunte o meu nome, pois tenho muitos. Como um camaleão, ao andar por essas ruas sem dono, descamo minha identidade, e assumo outras mil. Não me pergunte o meu nome, pois às vezes, não tenho nenhum. Os pedestres que caminham entre as placas de neon desta cidade deixam pra trás detritos, pedaços de … Continue lendo Imageboards II
Imageboards
O outro dia, a organizar tralhas antigas, tropecei em um objeto retangular, que estava coberto uma grossa manta. Levantar o véu maciço revelou não apenas uma espessa nuvem de poeira que engatinhava pelo chão do sótão, como também a mim. Estava lá, refletido na superfície prateada do que tudo indicava ser um espelho. O que, … Continue lendo Imageboards
Observações de um coração engavetado
Eram 15:48, uma tarde de domingo. O sol tímido volta e meia se fazia presente na janela do hospital. Ali, ela fechou os olhos uma última vez. Não conseguimos salvá-la. Foi uma decisão pesada, mas, no final das contas, um consenso, pois já estávamos todos cansados de tentar empurrar o inevitável. Um por um, cada … Continue lendo Observações de um coração engavetado
A torre
Ilustração por Ziv Qual (www.zivcg.com) Todos esperavam que um dia, a torre fosse cair. Estava velha, abandonada, era simplesmente grande demais para permanecer de pé por si só. Ninguém sabe quem construiu a torre; quando chegaram lá, a torre já estava erguida, perfurando as nuvens. Talvez fosse algum homem de fé tentando alcançar os céus. … Continue lendo A torre
Baratas
Ele ficou pensando se deveria cumprimentá-lo. Passou algum tempo matutando sobre o assunto - talvez mais do que deveria - e decidiu que era uma boa ideia. Contudo, ao dirigir-se à ele, tropeçou nos seus próprios pés. Quando caiu ao chão, explodiu em baratas. O espaço que seu corpo ocupava, subitamente, morfou-se em uma miríade … Continue lendo Baratas